Há uma dor silenciosa em existir. Uma espécie de ferida invisível que se abre no momento em que tomamos consciência de que somos. Não é uma dor física, nem sempre é emocional, mas algo mais profundo, mais íntimo: a ferida de ser.
Não importa o quanto evoluímos, o quanto aprendemos ou o quanto tentamos preencher o vazio — há sempre um eco dentro de nós que sussurra: "Ainda falta algo." Esse “algo” não tem nome, não tem forma... É o chamado eterno da alma para voltar ao que nunca foi esquecido, mas que se perdeu entre as máscaras e obrigações da vida.
A ferida de existir
Ser é estar exposto ao tempo, às dúvidas, às despedidas e às perguntas sem resposta. Ser é sentir a saudade do que nem sabemos se existiu, é carregar a nostalgia do inatingível. A existência humana é essa dança entre o real e o invisível, entre o agora e o que poderíamos ser se não estivéssemos tão presos ao medo.
Mas talvez o propósito nunca tenha sido curar essa ferida. Talvez ela exista para nos manter acordados, sensíveis, em movimento. Talvez a dor de ser seja o lembrete constante de que ainda estamos vivos, e que há algo maior que pulsa dentro de nós — algo que não pode ser explicado, apenas sentido.
As cicatrizes da alma não são falhas
Vivemos numa época que idolatra a perfeição, a cura total, o sucesso limpo. Mas e se a beleza estiver justamente nas partes que ainda sangram? Nas partes que nunca se fecharam totalmente? Somos feitos de pedaços inacabados, de histórias não contadas, de silêncios que gritam.
Cada ferida é uma porta. Uma passagem secreta que nos conecta com outros seres humanos, com a arte, com o divino. Quem nunca chorou sozinho, não conhece a verdadeira profundidade de um sorriso compartilhado. Quem nunca se sentiu perdido, talvez nunca tenha realmente se encontrado.
A ferida que nos torna humanos
Carregar a dor de ser é, paradoxalmente, o que nos liga à vida. É o que nos empurra a buscar sentido, a escrever, a criar, a amar. É o que nos lembra que estamos em jornada — não para sermos perfeitos, mas para sermos inteiros, com todas as nossas rachaduras.
No final, talvez ser não seja sobre curar-se completamente. Talvez ser seja sobre aceitar que viver com essa ferida é também uma forma de cura. Porque é através dela que sentimos, que questionamos, que evoluímos.
A ferida de ser nunca cicatriza — e ainda bem. Porque é ela que mantém a alma desperta.
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